30.9.02

Mercado nervoso...


Frank Maia
Serviço de xarjincasa by Frank

24.9.02

É 2002 e você só quer um outro lugar para ir

Émerson Gasperin

Ao lado de Nelson Motta, Angeli inventou o rock brasileiro como o conhecemos hoje. Se o produtor, compositor, jornalista e outras profissões que não exigem diploma forjou condições favoráveis para que surgisse o mainstream, o quadrinista ocupou-se dos tipinhos do udigrudi – e teve papel fundamental na consolidação das tribos. Mais ou menos assim: até havia punks em São Paulo, mas ficou muito mais fácil identificá-los depois da criação de Bob Cuspe. Aliás, neguinho ficava com muito mais vontade de ser punk por causa do Bob Cuspe do que pelo João Gordo. Para os roqueiros decadentes, tinha o Oliveira Junky. Tornando os hippies engraçados, Wood & Stock. E metaleiros, rastas, groupies, gigolôs; de Angeli não escapou nenhum.
Ainda hoje, aparentemente sem intenção direta, ele continua a retratar com fidelidade os perfis que surgem nas prateleiras do pop mundial e que tentarão crescer e se multiplicar por estas terras. O último contemplado por sua sagacidade é o grupo The Vines. Sim, os moleques de Sydney que, segundo relatos inflados, irão reger o universo ao lado de Strokes, White Stripes e The Hives. Angeli nem sabe disso, mas, toda vez que desenha o Comando Revolucionário Kurt Cobain, de sua prancheta brotam também os diálogos e inspirações que norteiam a existência e o faturamento dos kids australianos. O feito do cartunista só não merece mais relevo porque qualquer roteirista mixuruca bolaria um troço similar aos Vines.
Os caras parecem mais fictícios – no sentido de “elaborados” por alguém – do que os Gorillaz. O release oficial da gravadora sobre seu disco de estréia, Highly Evolved, informa: “O álbum soa como um adolescente isolado que passa o tempo ouvindo álbuns clássicos através de fones de ouvido, em volume letal, até que as influências mais cruas o levam a um gravador de quatro canais, vindas direto de seus corações e de seus amplificadores pulsantes”. Tirando a parte de passar o tempo isolado com amplificadores pulsantes, que é coisa da juventude esquisitona anglo-saxônica, poderia descrever também o Catedral, o Cogumelo Plutão, o Surto ou outro talento que esparrama sua genialidade pelo dial.
Festejou-se, então, uma suposta semelhança com o Nirvana (com certeza dono de um dos tais “álbuns clássicos” ouvidos pelos fones de ouvido do adolescente), provocada principalmente pela pegada grunge de Get Free. Para o bem da criançada, a propaganda cometeu um equívoco, pois aquilo é puro Stone Temple Pilots. De resto, o mais próximo que os Vines aproximam-se de Kurt Cobain é ao remeter a Meat Puppets (que o suicida adorava) no rock Sunshinin. Ouve-se, isso sim, é muita balada (algumas com solo de guitarra e tudo), um skazinho (Factory) e rocks passageiros como Ain’t No Room, In The Jungle e 1969 – que, com seus seis minutos de duração, é um épico de uma profundidade que uma formiguinha atravessaria com água pelo joelho.
É nas letras, porém, que os Vines confirmam suas ligações com o Comando Revolucionário Kurt Cobain. São 18 “yeah”, 18 “ah”, cinco “oh e 36 “hey” em seis das 12 músicas que compõem o CD, algumas com mais de um requinte onomatopaico. Nesse quesito, Factory é imbatível, com um refrão que berra (de acordo com a grafia no encarte) “aaaaaaaaaahhhhhh hey ah hey”. Ai, ai. Quanta injustiça com o Silverchair, que ainda ostenta um drama pessoal e intransferível a lhe emprestar pungência. Seria o caso de recomendar Echo Dek, do Primal Scream, se o fotógrafo e videasta Matias Maxx não tivesse tatuado “dub” na canela e descoberto que a palavra pode ser lida de trás para frente no espelho. Enquanto ele se exibe levantando a calça em sapatarias, fixemo-nos em Evil Heat, a nova tiração de onda “screamadelica”.
(por Emerson Gasperin)

4.9.02

Serviço de Xarjincasa do Frank


Frank Maia